Antes de mais nada – a confissão: roubado do blogue: http://vidaincoerente.wordpress.com/, HehEHE. Tá pensando o quê? Aqui se faz, aqui se paga, queridinha! AHUAHAHA
… Sim, tenho pensado bastante. As coisas que acontecem ao meu redor (muitas, acredite), as coisas do dia-a-dia, os filmes que tenho assistido e um livro, em especial, me deixa em ebulição.
Recomendado por uma amiga na sexta, comprei no sábado: “A arte de ter prazer. Por um materialismo hedonista”, do filósofo Michel Onfray. A leitura não é das mais fáceis e tb não é de sacanagem, como muitos vão pensar.
O livro explica a visão de alguns filósofos sobre o corpo. To reduzindo beemmmm o contexto do livro porque não é sobre isso que quero falar, mas sobre as primeiras páginas. Sério, se tivesse parado a leitura por ali já estaria preenchida. Foi a descrição mais perfeita de um enfarto que já li em toda a minha vida. Sei que nunca enfartei, pelo menos não fisicamente, mas consegui sentir, como leitora, cada dor expremida naquelas palavras. Um texto belo, corrido, perfeito. Fiquei fascinada. Queria muito escrever daquela forma.
Eis um trecho: “Meu corpo parecia se escoar por uma fenda talhada a navalha que eu sentia como o avesso do meu coração. A brecha engolia minha carne, meu sangue e tudo o que pudesse apresentar-se sob forma de alma. Os músculos se retesavam até a tetanização, a mineralização, e o ritmo cardíaco se transformava em estridências. A consciência desaparecia naquele apocalipse que se tornara seu único objeto; eu já não era mais que uma imensa dor acompanhada de contorções, buscando desesperadamente uma posição aplacadora. Em vão. Às vezes, num jogo de reflexos, eu me via metamorfoseado em sofrimento puro, como que diáfano ou cristalino, prestes a me quebrar em estilhaços e fragmentos múltiplos. Eco singular de uma decomposição de tipo geológico.
A concentração da dor em um ponto de atordoante densidade abolira toda distância entre a dor e a consciência que pudesse apreendê-la. Uma estranha alquimia liquefazia a carne em energia ardente. Cada instante ameaçava uma pulverização que siginificaria o fim – que eu desejava.
O médico diagnosticou um enfarte, eu ia fazer 28 anos, e naquela segunda-feira, 30 de novembro, meu corpo experimentou uma sapiência que se transformaria em hedonismo”
Perfeito, não? E tem mais. Saca como termina este primeiro capítulo:
….”Os batentes da porta se abriram, o leito foi retirado da sala de reanimação e o cadáver se foi, para outro lugar, passando coberto pelo sudário diante das visitas e da família que esperavam no corredor. Ao meu lado, eu não conseguia desviar o olhar do buraco deixado pelo lugar vazio da cama que fora levada. Morrer era, portanto, muito simples. Depois daquela lição das trevas, restava fazer do corpo um parceiro da consciência, reconciliar a carne e a inteligência. Toda existência é construída sobre areia, a morte é a única certeza que temos. Trata-se menos de dominá-la do que de desprezá-la. O hedonismo é a arte desse desprezo.”
E isso sem falar das citações ao longo do livro. “Viver de modo que imperiosamente desejes reviver, é esse o teu dever”, Nietzsche. ou “Desfruta e faz desfrutar, sem fazer mal nem a ti nem a ninguém: essa é, creio eu, toda a moral”, Chamfort.
Não é pra mexer com a cabeça de qq um? Pois a minha está fervendo.. que bom !